
Por Júnia F. Carvalho
De repente o mundo mudou… “nós” agora é maior que “eu”, “demos um salto quântico em todas as áreas”, algumas das frases que ouvimos com frequência e que aos nossos ouvidos corroboram o momento atual.
Pisamos no acelerador da inovação com direito ao exponencial, mas com a mentalidade local e linear (sujeita às mudanças gradativamente “ainda” daqui a 5 ou 10 anos).
Mas o que é pensamento local, linear e exponencial?

Nós seres humanos tivemos até então uma experiência local e linear, isso significa que tudo o que acontecia em nossas vidas costumava estar à distância de um dia de caminhada. Se algo ocorresse do outro lado do planeta, o ser humano não ficaria sabendo.
Os comportamentos, a vida de uma geração para outra era efetivamente igual, a considerar a sua linearidade, pois muito pouco mudou no decorrer de séculos: estávamos sempre usando as mesmas ferramentas, comendo as mesmas refeições e repetindo os mesmos hábitos.
Como resultado desenvolvemos uma visão improvisando, “reagindo no momento em que era necessário, às ameaças mais urgentes à sobrevivência, como aniquilar os animais selvagens e construir abrigos para se proteger.
Atualmente vivemos a era complexa que de forma geral, se algo acontece na China ou Japão, isso afeta você no Brasil, em minutos depois, às vezes em segundos, seja na economia, notícias, temores, o que for.
De acordo com Peter Diamandis, co-fundador, presidente da Singularity University e autor do best seller Abundância: O Futuro é Melhor do que Você Imagina, existem forças que causam esse fenômeno:
- As tecnologias exponenciais: computadores, AI, impressão 3D, biologia sintética e medicina digital.
- As Ferramentas de comunidades e crowdsourcing: concursos, coleta de dados, comunidades ‘faça você mesmo, financiamento coletivo, criatividade coletiva.
MAS MESMO VIVENDO NA ERA COMPLEXA, O NOSSO CÉREBRO AINDA “DIZIA”: LOCAL E LINEAR
A previsibilidade dos nossos pensamentos nos dava o conforto. Tudo estava indo razoavelmente bem, os mercados, de empresas das menores às de classe mundial, de estilos de lideranças, culturas organizacionais e na educação, mas a adaptabilidade nem imaginava que precisaria da habilidade de resolver problemas complexos, da empatia tão rapidamente, da inteligência emocional e da criatividade.
EM BUSCA DE IDEIAS CAPAZES DE ORIGINAR SOLUÇÕES

Como empreendedora no auge dos 11 anos da minha terceira empresa, a Oito Consultoria, decidi que era o momento, mais que adequado, de conhecer um pólo de inovação. Fui ao Vale do Silício para conhecer as tecnologias que estão mudando o mindset dos comportamentos, das empresas e do mundo e com uma inspiração fascinante e o propósito de ajudar empresas brasileiras, instituições de ensino e alunos, já que também atuo na educação, trouxe na bagagem um novo olhar sob os negócios, líderes e várias ideias para novos projetos.
Ironicamente, nós, eu e quase 8 bilhões de pessoas no mundo, tivemos que pisar no freio das nossas vidas pessoais e profissionais, das soluções, das conexões presenciais e no mesmo dirigir o pensamento para algo inédito, a crise causada por um vilão desconhecido, um vírus de contágio exponencial.
E milhares de pensamentos vieram à tona, entendi a minha vulnerabilidade. Confesso que fiquei paralisada (não tenho o que fazer), depois sentimento de fuga (ah! Isso vai passar rápido.) e por fim, reagi à situação me questionando: o que eu posso fazer para ajudar o time, as pessoas, nossos clientes? Como atender a uma demanda que não é mais local e sim mundial, e que invariavelmente precisa desse pensamento exponencial, inovador e que não tem como esperar sequer segundos?
E então, conversando com nossos clientes, parceiros e amigos, compreendendo as dores, pesquisando e estudando, aproveitei o tempo para reunir oportunidades que nos ajudam a enxergar o copo meio cheio.
VOLTAMOS À BASE DA PIRÂMIDE

Retomamos à pirâmide de Maslow, a qual destaca as necessidades que precisam ser atendidas, sobretudo nesse momento: as mais básicas.
E estamos preparados?
Soft skills, habilidades essenciais como empatia por nós e pelos outros. Quais as tecnologias e recursos nos ajudarão: Telemedicina, E-commerce, Geek Economy, Home Office. Sim todos!
A telemedicina para atender a saúde e permitir que milhares estejam sendo cuidados e ao mesmo tempo protegidos de contaminação; o e-commerce da Amazon nunca foi tão providencial. Uber e Ifood, um permitindo a mobilidade de pessoas, outro a comida e ambos movimentando a economia, que agora também é geek. Sem falar das empresas que hoje são abrigadas em lares, com filhos, cães e muita amorosidade.
A tecnologia resolvendo um problema exponencial, enquanto o ser humano aprende a pensar a complexidade para arquitetar soluções de trabalho, saúde, mobilidade, educação e reaprender ser “humano”.
O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender (Alvim Tofller).
Desse aprendizado, desaprendizado e reaprendizado, será que nascem novos comportamentos, novas soluções, uma nova economia, um novo capitalismo, uma nova educação e um novo líder?
CHEGOU A HORA DE VIRAR O JOGO

As tendências comportamentais transformaram-se em fatos. Nunca se falou e praticou tanta responsabilidade social (pensamento coletivo) e “se enxergou e também o outro”, como partes fundamentais desse ecossistema chamado planeta terra.
Sem impor qualquer verdade absoluta, mas como eterna aprendiz, com desafios pela frente, e consciente do problema, chegou a hora de virar o jogo, transformar os desafios em oportunidades!
Convido para três questionamentos importantes que a inovação nos ensina: Como podemos expandir? O que está por vir? E para onde estamos dirigindo nossos recursos?
1. Como podemos expandir?
Analisar o cenário, as possibilidades, como posso empreender, inovar em negócio existente, na minha gestão e nadar no oceano azul ao invés de surfar no mar vermelho.
Inovação disruptiva?
Em seu artigo “Inovação Disruptiva”, Newton Paskin, Mentor & Business Advisor da Singularity, o qual tenho a honra de considerar mentor, reforça que:
Pensar em inovação disruptiva é pensar de uma forma que reinvente o que uma empresa oferece como serviços ou produtos. … A característica da Inovação Disruptiva é que ela modifica totalmente a indústria e cria novos conceitos.
Um exemplo é a plataforma Airbnb (Air, Bed and Breakfast) que nasceu na crise de 2008, trouxe uma solução real para pessoas com um novo conceito. E que sob a ótica da economia circular, propõe consumo responsável. Com apenas quatro anos de existência, o Airbnb se tornou uma das principais plataformas de oferta de hospedagens do mundo.
Na crise atual, a indústria da moda e marcas de roupas de luxo, segundo o jornal Washington Post, já estudam uma forma de se manterem relevantes.
Recentemente o Fórum Econômico Mundial destacou o capitalismo verde, riscos ambientais que devem considerados pelas lideranças mundiais e empresas, a mudança climática foi pauta. Além disso, destacou a década da Ação – isso há alguns meses antes da explosão de Covid-19.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, lançados em 2015, continuam a jornada com 169 metas até 2030 como caminhos para um mundo sustentável, mas sobretudo com o propósito de resolver problemas reais que impactam nossa sociedade, nossos negócios e nosso planeta e nesse cenário será ainda mais providencial implantá-los em nossas Companhias.
Pensar global, se reinventar por meio de pensamento exponencial, inovação disruptiva, com soluções para problemas reais!
2. E o que está por vir?
Muito provável problemas sociais, econômicos, na saúde, educação e emocionais clamando por soluções no curto, médio e longo prazos.
Quais recursos teremos, nós líderes e educadores? Chegou a hora de colocar o propósito em prática.
Jorge Paulo Leman, autor da obra Sonho Grande, dono com mais três sócios de gigantes como Budweiser, Burguer King e Heinz, desenvolveu uma fórmula de gestão, seguida pelos funcionários, em meritrocracia, simplicidade e redução de custos.
O empreendedor, destaca:
“No final das contas eu sou um professor é assim que eu realmente me vejo.”
Em meu artigo “O Líder da Era Complexa”, cito as características do Líder fazendo uma alusão criativa de personagens dos cinema mapeando as características do Protagonista (representado pela Capitã Marvel): lidera a mudança, adapta-se ao contexto, cria e antecipa-se, domina a tecnologia, empoderado, arrojado e possui comunicação assertiva. Já o Expectador (Shrek), espera que lhe deem instruções, resiste à mudança, responde de forma reativa, a tecnologia é inimiga, apático e conservador em mais do que nunca, para essa era complexa e agora enfatizo, não há espaço para o expectador.
O professor de biologia Paulo Jubilut, com mais de 1, 81 milhões de inscritos no seu canal do Youtube, afirma de maneira empreendedora, “faça o que puder, com o que tiver onde estiver”.
Já o prof. José Motta Filho, diretor educacional da Silicon Valley, ressalta que “o mundo é orgânico e precisamos incorporar o aspecto antifrágil da disrupção para a criação de novos produtos, serviços e sobretudo na educação”.
Destaco esse tópico com a frase que mais ouvi no Vale do Silício: Não me conte o que você faz, Faça!
Pensar o Propósito + Ação, conectando empresas com a educação. Atitude Empreendedora l Meritrocracia l Simplicidade l Redução de Custos l Educação 5.0
3. Para onde estamos dirigindo os nossos recursos?
O trabalho remoto bate recorde. Acredita-se que o home office será uma modelo adotado por pelo menos 25% das pessoas no mundo, segundo dados da Global Analitycals Service.
Entretanto, conforme destaca Priscilla Chan, médica, educadora e esposa de Mark Zuckerberg:
A tecnologia só poderá resolver grandes problemas se conseguirmos reunir as pessoas. É preciso de colaboração radical.
A 42 School Silicon Valley, uma escola de programação que não possui professores, em Palo Alto no Vale do Silício, um conceito extremamente disruptivo, nasceu de um projeto social para atender uma demanda na França.
A Yunus Negócios Sociais foi criada para resolver um problema social em Bangladesh. Milhares de mulheres empreenderam e saíram da linha da pobreza.
Pensar também a transição do capitalismo, sobretudo para onde está caminhando.
O novo capitalismo impõe um poder de negociação centrado no conhecimento, nas ideias, nas marcas registradas, nos direitos de reprodução, nos segredos de produção e distribuição e redes de relações que definem o novo sistema econômico capitalista 4.0.
(Luiz Carlos Barnabé, vice presidente da ordem dos Economistas do Brasil)
De forma geral: antes tínhamos o ouro amarelo, depois o ouro negro (petróleo) e hoje no mundo exponencial, temos o ouro branco: dados e o conhecimento.
Pensar a empregabilidade, tecnologias, as soluções para problemas sociais e a nova economia.
E O REPERTÓRIO DO LÍDER NESSE CENÁRIO E NOS PRÓXIMOS?

As pessoas continuam sendo o ativo mais valioso da empresa.
Segundo a Consultoria Deloitte, antes mesmo dessa crise, os líderes estavam preocupados com as mudanças, sobretudo com o modelo da quarta revolução industrial que traz no seu roteiro cinco pontos cruciais: Exponencialidade, Efeitos de Rede, Real Time, Big Data e AI.
Se os três medos importantes das gerações eram: ficar sem sinal de internet, conexão ruim e os 10% que restam de conexão, hoje aceleramos mais ainda essa curva.
Após a crise, a velocidade das mudanças aumentarão e impactarão no comportamento das pessoas, nas relações de trabalho, na economia e sem falar na relação líder e liderado.
Mais do que nunca não há espaço para o líder expectador e sim para aquele que fortemente desenvolve suas habilidades comportamentais capazes de influenciar os mais diversos resultados e engajamento dos seus liderados. O momento de validar as habilidades socioemocionais chegou.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, a nova economia gerará 133 milhões de postos de trabalhos até 2025, destes 54% exigirão habilidades que sequer existem, mas liderarão o ranking aqueles que agirem com repertório, segundo o WEF, com as top habilidades, entre elas: resolução de problemas complexos, criatividade, gestão de pessoas, inteligência emocional, flexibilidade cognitiva, coragem e tomada de decisão.
Conversei com a primeira psicóloga de robôs, Dra. Joanne Pransky, sobre sua iniciativa disruptiva e entendi que o seu papel se resume em colaborar com a interação homem-máquina e que na essência suas competências ajudam o ser humano.

Ainda, do ponto de vista das mudanças tecnológicas é necessário “entender a transformação digital em três aspectos: cognitivo, comportamental e emocional”, Segundo Andrea Iorio autor de 6 competências para surfar na transformação digital.
Sob o aspecto cognitivo: adotar a mente limpa – parar de olhar para o passado e adotar o radar do futuro. A maioria das decisões devem ser tomadas com o máximo em flexibilidade cognitiva, além de desenvolver competências em várias áreas de conhecimento, não se limitando em ser especialista.
No aspecto comportamental: criar uma cultura de tolerância ao erro e da experimentação. Na maioria das vezes as pessoas dizem que os erros são arriscados e desnecessários. Uma tolerância ao erro no digital por meio de metodologia ágil, prototipação.
Ter uma atitude Maker, a medida que o líder vai introduzindo a cultura do erro, coloca a mão na massa e esse comportamento contribui para a interação, prototipação e recebimento de feedback das pessoas mais rapidamente.
A necessidade do autoconhecimento, autocontrole de conhecer suas forças e fraquezas, e sobretudo liderar, no que eu venho trabalhando com os líderes, com base nos 5Cs: Cuidado, Colaboração, Comunicação, Conhecimento e Confiança, complementam o repertório do líder desse cenário.
Além disso, adotar a mentalidade do 1º dia.
Todos os dias no trabalho devem ser tratados como se fossem o primeiro dia.(Jeff Bezos, CEO e Presidente da Amazon)
- Em uma análise simples, o quão somos mais engajados em iniciar algo, como exemplo, o primeiro dia de namoro, o primeiro dia que se adquire algo que sonhava, o dia do nascimento do seu primeiro filho.
Já sob o aspecto Emocional: o líder dessa era precisa desenvolver a empatia, inteligência relacional, bem como mostrar a sua vulnerabilidade: esse poder nos leva a tirar a armadura e mostrar a nossa humanidade.
Abro um parêntese para a vulnerabilidade:
Ter coragem de ser imperfeito, de como somos generosos ao assumirmos nossa vulnerabilidade e que essa característica determina o alcance de nossa coragem e a clareza de nosso propósito.
E falando em propósito, estamos vivendo a era na qual os valores são frequentemente mencionados como base para nossas diretrizes e escolhas. As pessoas não compram apenas produtos ou serviços, estão em busca cada vez mais de uma causa, seja na responsabilidade social, qualidade de vida ou ambiental.
A geração Z, também considerada a geração da verdade, quer alinhamento de propósito.
Levando para as nossas Organizações, Adriana Solé, fundadora do canal Governança Já, liderança feminina no tema, destaca a fundamental importância da transparência da gestão de uma empresa:
Os conselhos e conselheiros de uma empresas serão cada vez mais avaliados daqui para frente pelo mercado e seus agentes.
Valorizar a diversidade, não somente na adversidade, mas na sua essência, soma visões diferentes, nos ajudam a evoluir. Compreender que nossas pessoas podem fato, colaborar!

Quando temos o repertório contemplando esses fatores, os insights são exponencialmente valorizados em todos os sentidos.
Um exemplo na Google, no Vale do Silício, conversei com Pierre Cintra, Gerente de Finanças e ele falou da política 70/20/10 – na qual o funcionário dedica 70 do seu tempo ao trabalho prioritário, 20 por cento em projetos inspiradores que podem ser inovações para o negócio, além de terem 10% de dedicação a projetos pessoais. Contou que uma funcionária teve a ideia de implantar energia solar em todo complexo da Google, se tornando o maior projeto de energia solar dos E.U.A. Além de economia de energia, colaborou com o meio ambiente e, sobretudo implantou ideia vinda de seu colaborador.

E para completar esse repertório do líder, cito um exemplo de pessoa inspiradora que nos faz refletir sobre a nossa capacidade de transformar a incerteza em esperança, essa em ação e por fim em legado.
Todas as manhãs aos domingos quando escutávamos o seu hino da vitória, era como se a esperança de nosso país renascesse. Talvez nem todos lembram, mas já ouviram falar.
Conversando com a Bianca Senna, Diretora do Instituto Ayrton Senna, que participou conosco da imersão no Vale do Silício, não podia ser diferente, “ele tinha o orgulho de levantar a bandeira do Brasil e sonhava com um futuro melhor para todas as crianças.” E sua obra expande o seu legado.
Considerar o contexto global, a inovação disruptiva de empresas, novos comportamentos, um novo capitalismo, a disrupção na educação, o ser humano na essência, o líder na perspectiva da resolução de problemas olhando com humanidade para o futuro, demonstra o quanto já estamos na curva da exponencialidade, pois somos uma rede conectada por filamentos, valendo-se do nosso poder socioemocional capaz de construir condições melhores para vivemos nesse ecossistema chamado planeta terra.
Sabemos que o caminho a ser trilhado pós-crise não será fácil, mas possível exponencialmente de ser melhor se juntos pensarmos e agirmos agora!
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*Júnia Carvalho, sou mineira, com sangue empreendedor, apaixonada pela ciência da felicidade, inovação e sustentabilidade.
Ajudo pessoas e empresas com projetos de inovação, sustentabilidade, tendências, comportamento humano, programas comportamentais e desenvolvimento de lideranças.
Gestora Estratégica de Negócios, Comunicadora Social, Gestora de Projetos de Sustentabilidade, coordenadora e professora em MBA.
Palestrante, diretora na Oito Consultoria, coordenadora de MBA na Universidade PUC Minas e Partner in Business & Education da Imersão Silicon Valley, São Francisco/Califórnia (USA)
Contatos: (31) 9.9881-1531 contato@oitoconsultoria.com.br